Eternizados - O Carrossel Holandês
O Carrossel Holandês
O "Carrossel Holandês", assim era chamada a seleção Holandesa de 1974 na Copa do Mundo da Alemanha, organizada e treinada taticamente por Rinus Michels, o gênio, e orquestrada dentro das quatro linhas por Johan Cruyff. Naquela ocasião a Holanda não venceu a Copa, quem venceu foi a anfitriã Alemanha de Franz Beckenbauer e Gerd Müller, mas quem encantou o mundo foi a "Laranja Mecânica" com uma tática visualmente desorganizada, massacrando os adversários com um banho tático-técnico com atuações brilhantes e por consagrar de vez o Futebol Total. É hora de relembrar os feitos da seleção que merecia, sim, uma Copa do Mundo. Uma não, duas! Já que foram vice também em 1978 na Argentina, para a Argentina de Mario Kempes.
Rinus Michels, foi jogador do Ajax e foi treinado por Jack Reynolds, aprendeu com Reynolds a arte da rotatividade em campo. Já como treinador Rinus Michels decidiu em seu primeiro ano de Ajax, em 1965, que iria fazer seu time jogar naquele método que aprendeu com seu mestre. E conseguiu. Beneficiado pela brilhante safra de bons jogadores e craques que apareciam no clube, como Johan Cruyff, o Ajax foi tricampeão holandês consecutivos de 1966 a 1968, além de uma Copa da Holanda em 1967. Com um futebol lindo de se ver e inovador, aquele time começou um domínio absoluto na Holanda e, principalmente, na Europa, com a conquista de três Ligas dos Campeões da UEFA consecutivas nos anos de 1971, 1972 e 1973 e ainda um Mundial Interclubes em 1972. Nascia a base da seleção da Holanda - como o Bayern München é a base da seleção Alemã nos dias de hoje - que começava a despontar como uma das favoritas ao título da Copa do Mundo de 1974.
Antes de Michels e da Copa, na Eurocopa de 1972, a Holanda não conseguiu chegar nas etapas finais, A equipe terminou na segunda posição do Grupo 7, atrás da Iugoslávia, com três vitórias, um empate e duas derrotas. Mesmo com a eliminação, o Futebol Total holandês vivia seu auge graças ao Ajax, que na Champions League venceu a Internazionale de Milão na final da Liga dos Campeões da UEFA daquele ano e foi exaltado de maneira empolgante pela mídia europeia, que declarou a “morte” do Catenaccio, a famosa retranca Italiana. Onde sabemos que nos dias de hoje não foi bem isso que aconteceu.
Ajax 2 x 0 Internazionale, 1972
Nas eliminatórias para a Copa, a Laranja Mecânica avançou invicta, com muitos gols e uma das melhores defesas com quatro vitórias e dois empates em seis jogos, com 24 gols marcados e apenas dois sofridos. A seleção Holandesa já dava show em terras europeias, mas o grande objetivo da KNVB, a federação de futebol do país, era ter Rinus Michels a seu comando. Depois de muita conversa, o treinador, enfim, assumiu o comando da seleção justamente em 1974, ano da Copa do Mundo.
Na Copa, taticamente organizada, com os padrões de jogo já estabelecidos, a seleção Holandesa estava pronta para fazer o que todos já esperavam: Dar show. Michels liderava o time do banco, já em campo o melhor jogador do mundo na época, Johan Cruyff, era o responsável por orquestrar o time como um maestro rege sua orquestra. Cruyff era rápido, inteligentíssimo e com noções táticas que beiravam a perfeição, se perfeito taticamente, Cruyff era a referência máxima do Carossel. A bola sempre passava por ele, era ele o responsável por toda a armação das jogadas, que sempre tinham sua assinatura. Mas não era somente Cruyff quem dava show. O time holandes ainda tinha na zaga Haan, Suurbier e Krol, Neeskens e Jansen pelo meio de campo e Rensenbrink e Rep no ataque. As funções em campo eram várias, sempre que um rival tinha a bola, dois, três laranjinhas chegavam e lhe tiravam a bola, a famosa marcação apoiada, ou marcação por cobertura. Era ridículo de tão bom! Os jogadores pareciam dançar em campo, cada minuto em uma posição diferente. Apenas o goleiro Jongbloed que mantinha sua função, que começou logo na estreia da equipe no Mundial, contra a boa seleção do Uruguai. Para os mais céticos que aguardavam um dos jogos equilibrados da edição viu um dos maiores bailes da história dos Mundiais. Foi 2x0 o placar, mas o volume de jogo dos holandeses, a posse de bola e a quantidade de chutes a gol impressionaram a todos. O Uruguai não viu a cor da bola.
Na segunda fase contra o Brasil, o técnico do Brasil, Zagallo, estava confiante antes do jogo contra a Holanda. Não passava pela cabeça ser eliminado pelos europeus, afinal, o Brasil era tricampeão mundial e tinha o ótimo goleiro Leão, o zagueiraço Luís Pereira, o craque Rivellino no meio de campo e Jairzinho na frente. Porém, camisa pesa, mas não ganha jogo. Muito menos se o adversário tiver Cruyff e Neeskens, os autores dos gols da vitória holandesa por 2 a 0, que mandaram o Brasil para a disputa do 3º lugar contra a Polônia. O Brasil ficou perdido em campo, não conseguiu neutralizar a Holanda e apelou para a pancadaria, com Luís Pereira expulso já perto do final do jogo. Não fosse Leão, o Brasil teria levado uma goleada. E Zagallo teve que engolir a derrota…
Cenas lamentáveis
A Holanda chegava a final contra a anfitriã Alemanha e seus frios jogadores, e ali naquele jogo Alemanha Ocidental conseguiu mostrar para o mundo que havia, sim, um método de enfrentar e derrotar a mágica Holanda de 1974: cadenciar o jogo, não deixar o adversário impor sua velocidade característica e marcar como se não houvesse amanhã a principal estrela holandesa, Cruyff. Vice-campeã mundial, a Holanda viu que não era imbatível e que podia, sim, perder. O time perdeu o brilho depois do mundial, Cruyff e Michels deixaram a seleção e a Laranja não foi mais mecânica na Copa de 1978, mesmo tendo chegado à final. Ainda sim, os feitos e shows aplicados em titãs como Uruguai, Argentina e Brasil, aliados ao estilo de jogo de Rinus Michels e Cruyff (sem um Vogts no encalço!) foram inesquecíveis para os amantes do futebol arte. A Laranja Mecânica ensinou o belo de não se guardar posição. Ensinou a liberdade, a velocidade, o toque de bola. Ensinou como envolver o adversário e não deixá-lo jogar. Ensinou como ser chato em campo. Ensinou como roubar uma bola com categoria. E ensinou como se tornar imortal, ser lembrado sempre e aguçar a nostalgia de todos mesmo sem um título. Ah, como jogou bola aquele Carrossel…
É impossível falar desse timaço sem lembrar do gênio e principal jogador, onde alguns o comparavam o seu auge até com Pelé, o melhor jogador do futebol holandês, maior ídolo do Ajax, um dos maiores ídolos do Barcelona, Hendrik Johannes Cruijff, ou simplesmente Cruyff.
referência: Imortais do futebol - Holanda de 74
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